quarta-feira, 13 de abril de 2011

Um Deus bom e a existência do Mal


O texto a seguir é um relatório de leitura de um capítulo do livro "Em defesa da fé" de autoria de Lee Strobel. Vale apena ler.

1ª OBJEÇÃO : Uma vez que o mal e o sofrimento existem, não pode haver um Deus amoroso.

A primeira objeção escolhida por Strobel é como bem expressou Stott, "o maior desafio à fé cristã em todas as gerações". A priori, os fatos relatados pelo autor na introdução do capítulo um, são indiscutivelmente complexos para uma compreensão distante da convicção em Cristo. Mas a entrevista com o Dr. Kreeft, trouxe respostas aos questionamentos de Templetom.

"Pensei: É possível crer que existe um criador amoroso ou solidário quando tudo o que essa mulher necessitava era chuva? Como poderia um Deus amoroso fazer isso com aquela mulher? Quem governa a chuva? Eu não, nem você. Ele o faz- ou era isso que eu achava. Mas quando vi aquela fotografia, imediatamente percebi que não é possível que isso aconteça e que exista um Deus amoroso. Não havia como. Quem mais se não um demônio poderia destruir um bebê e virtualmente matar a sua mãe de agonia quando tudo o que precisava era de chuva? Então comecei a considerar as pragas que varrem certas partes do planeta e matam indiscriminadamente... e ficou cristalinamente claro para mim que não é possível que uma pessoa inteligente creia que existe uma divindade que ama".

O jornalista Lee Strobel começa sua entrevista com o Dr. Kreeft confrontando-o com as palavras de Templetom. Logo Kreeft dar uma resposta carregada de sabedoria e coerência intelectual. "Como pode um ser humano finito estar certo de que a sabedoria infinita não toleraria certos males de curta duração a fim de alcançar bens de maior amplitude que não poderíamos prever"? Quão inteligente fora a colocação de Kreeft. O ser humano finito não pode prever a sabedoria infinita. Essa é uma realidade que muitas vezes não pensamos. Com todas as nossas falhas, imperfeições e limitações queremos compreender a boa, agradável, perfeita e infinita sabedoria do Criador. 3
Ao longo da entrevista, com base em alguns argumentos de Kreeft, Strobel supõe que Templetom tenha testemunhado da realidade de Deus. Kreeft por sua vez reforça esse pensamento quando diz:
"Se eu dou a um aluno a nota nove e a outro oito, isso pressupõe que dez é um padrão verdadeiro. E o meu argumento é o seguinte: se Deus não existe, onde nós encontramos o padrão de bondade pelo qual julgamos o mal como mal"

Para que algo seja julgado como mal, deve necessariamente haver um padrão de bondade. E se há bondade, então Deus existe. Logo, entendemos quão coerente fora o pensamento do professor Kreeft. O mal pode ser usado como argumento a favor de Deus. Quanto brilhantismo intelectual.
Ao caminhar um pouco mais pelas páginas desse clássico apologético, encontro mais uma citação que merece destaque. Diz o mestre Kreeft:

"A defesa clássica de Deus diante do problema do mal é que não é logicamente possível se ter livre arbítrio e nenhuma possibilidade de maldade moral. Em outras palavras, uma vez que Deus escolheu criar seres humanos com livre-arbítrio, então dependia destes, e não de Deus, haver pecado ou não. É isso o que significa o livre-arbítrio. Embutido na situação em que Deus decide criar seres humanos está A possibilidade do mal e, consequentemente, o sofrimento que daí decorre"

Estamos diante de mais um questionamento que muito tem perturbado mentes. Teria Deus criado o mal? Como bem expressou Kreeft, "Deus criou a possibilidade do mal. Logo, a fonte do mal não é o poder de Deus, mas a liberdade do homem". A experiência profissional e intelectual de Strobel foi fundamental na sua entrevista. Após a afirmação supramencionada de Kreeft, Lee faz uma pergunta crucial: "Então por que Deus não criou um mundo sem liberdade humana?" A resposta do filósofo que tem como passatempo predileto o surf, superou nossas expectativas:

"Por que esse teria sido um mundo sem seres humanos. Teria sido um lugar sem ódio? Sim. Um lugar sem sofrimento? Sim. Mas também teria sido um mundo sem amor, que é o valor mais elevado do universo. Esse bem supremo jamais poderia ter sido experimentado. O amor verdadeiro-nosso amor para com Deus e o amor de uns para com os outros- deve envolver uma escolha. Porém, com a concessão dessa escolha viria a possibilidade de que em vez disso as pessoas escolhessem odiar."

O pensamento de Kreeft é no mínimo fantástico. Como seria o mundo sem amor? Qual o sentido da vida sem esse bem supremo? O verdadeiro amor. O que seria de mim e de 4
você sem ele? Quantas atitudes lindas já vivenciamos, praticamos e experimentamos, através do amor. Graças a Deus pela bendita liberdade de escolha, sem ela, não teríamos a capacidade de escolher livremente o amor. O fato de algumas pessoas escolherem o ódio é no mínimo incompreensível e no máximo, lamentável.

Os antigos gregos acreditavam que os deuses ensinavam a sabedoria por intermédio do sofrimento. Ésquilo escreveu: "Dia após dia, hora após hora, a dor goteja sobre o coração, quando contra a nossa vontade e mesmo a despeito de nós, vem a sabedoria da temível graça de Deus." Todos sabemos que ser bom não é necessariamente ser gentil. Em determinadas ocasiões, Deus vai nos privar do bem menor do prazer a fim de ajudar-nos a alcançar o bem maior da educação moral e espiritual. Precisamos apenas de honestidade para admitir que aprendemos da maneira mais difícil. C. S. Lewis sentenciou: "Deus sussurra em nossos prazeres, fala em nossa consciência, mas grita em nossas dores. É o seu megafone para despertar um mundo surdo."
A leitura que fizemos da obra de Lee Strobel é de tão grande relevância, que exatamente no momento em que estamos concluindo esse relatório de leitura, o mundo ficou chocado com o assassinato de doze crianças na escola municipal Tasso da Silveira em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro. Por que Deus sendo bom, permitiu que essa tragédia acontecesse? Por que Deus permitiu a morte de crianças inocentes? Deus está ausente como afirmou Arnaldo Jabor? Essas e muitas outras indagações foram levantadas no contexto desse acontecimento. Creio que as palavras de Kreeft são importantes para a nossa reflexão:"Como pode um simples ser humano finito estar certo de que a sabedoria infinita não toleraria certos males de curta duração a fim de alcançar bens de maior amplitude que não poderíamos prever?" Portanto, deixo as palavras de Agostinho para continuarmos refletindo; "Deus, soberanamente bom, não permitiria de modo algum a existência de qualquer mal em suas obras, se não fosse poderoso e bom a tal ponto de poder fazer o bem a partir do próprio mal". Assim, à infinita bondade de Deus pertence permitir males para através deles efetuar o bem.

Adriano Lima.

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